O luto pode ser designado como um processo de adaptação, e quando falamos desse processo especificadamente, é importante lembrarmos que se trata de uma experiência singular, cada pessoa lidará com as nuances desse trajeto conforme seus recursos psicológicos disponíveis, o que leva tempo. Para compreendermos o luto de forma objetiva é importante sabermos que no decorrer do processo podemos ter maior ou menor facilidade de adaptação, com isso, podemos percorrer um percurso considerado “normal” ou “complicado” de comportamentos e sentimentos. E quais são os sentimentos esperados mais comuns em ambos os percursos? Tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, cansaço, etc. Dentre as sensações físicas se percebe o vazio no estômago, aperto no peito ou na garganta, falta de ar e fraqueza muscular. Exemplificando os comportamentos, pode se observar dificuldades e modificações no sono e apetite, um desejo de isolar-se socialmente, choro, uma certa agitação e hiperatividade. Lembrando que nem todas as pessoas ultrapassam por esses exemplos descritos, assim como, a intensidade com que se vivencia também é variável.
Atualmente não podemos “descolar” a temática do luto da pandemia de Covid-19, pois além de milhões de pessoas serem afetadas emocionalmente e fisicamente, muitas perdas vieram atreladas a ela. Todas as pessoas foram impactadas de alguma forma, seja em menor ou maior intensidade, dessa forma, todos foram lançados a um processo de luto repentino. Perdemos pessoas queridas, perdemos a liberdade de circular livremente, nossa rotina e também o apoio prático em decorrência da necessidade do afastamento das pessoas. Será preciso nos readaptarmos, traçarmos uma nova rota, e na maioria das vezes não conseguimos e nem precisamos fazer isso sozinhos.
O psicólogo pode apresentar-se como um facilitador e norteador durante todo o trajeto, auxiliando para que as pessoas possam ter uma adaptação saudável dentro de um período razoável. Muitas pessoas se deparam com dificuldade em lidar com os sentimentos, pensamentos e comportamentos perante a perda, buscar auxílio profissional e reconhecer a necessidade de aceitar ajuda pode ser fundamental, ou seja, poder falar e exteriorizar sobre a dor e desconforto é primordial para entender sua nova realidade, dessa forma, será possível projetar uma nova vida conforme os seus desejos.
E quando termina o processo de luto? Muitas pessoas têm essa dúvida, a qual não disponibiliza de uma resposta pronta, não tem tempo certo ou errado. Alguns autores sugerem que é necessário passar por certas etapas e tarefas para que se conclua todo o processo de luto, mas de maneira geral pode-se dizer que o mesmo termina no momento em que a pessoa consegue reinvestir suas emoções na vida e no viver.
Psicóloga Suelen Menezes – CRP 06/158407.
Referências Bibliográficas
DANTAS, Clarissa de Rosalmeida et al. O luto nos tempos da COVID-19: desafios do cuidado durante a pandemia. Rev. latinoam. psicopatol. fundam. [online]. 2020, vol.23, n.3, pp.509-533.
WORDEN, James William. Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental. 4ed. São Paulo: Roca, 2013.